Este site usa cookies para garantir que você obtenha a melhor experiência.

Artigos,

Ana Cardoso: “Nas ruas e nos bares, a gente só quer ser feliz”

Nunca morei numa rua com nome de mulher. Nasci na 13 de Maio, em frente ao Teatro Guaíra, em Curitiba. Comecei bem. Depois mudei para a curiosa Primeiro Ministro Brochado (isso mesmo) da Rocha de permaneci até me mudar, aos 20 anos, para Florianópolis. Para a Lagoa da Conceição, mais especificamente, de tudo é lua, cor e flor.

Na Ilha, os nomes dos logradouros são poéticos ou homenageiam os s manezinhos que abriram caminhos e servidões. Morei no Beco do Surfista, na Rua das Palmeiras, na Lagoa Pequena, na geral do Canto da Lagoa e por último, na Manoel Isidoro da Silveira, provavelmente pescador e primo do Manuel Severino da Silveira, que dá nome à via paralela.

Em to Alegre, tive dois endereços: Rua Costa e Rua Comendador Rodolfo Gomes. Hoje, de volta a Curitiba, moro numa rua que começa com marechal. Sinto falta de nomes femininos. Antigamente, a rua não era o espaço das mulheres, hoje é. Violento, perigoso, mas é nosso também.

No último final de semana, conheci uma rua – interna – dessas instaladas em propriedades particulares, com um propósito muito bonito: de ser um local de diversão amistoso para mulheres. Na Rua Pagu, homens são bem-vindos, é claro, mas quem prepara os drinks, comanda a comida, o som e define as regras são três amigas.

Nada de fiu-fius, bate-bocas ou assédio. É lindo existir uma rua concebida como um lugar seguro para mulheres e crianças. Há alguns anos, uma grande amiga de to Alegre escreveu um texto sobre o declínio das boates. Entre os motivos apontados para os jovens de hoje frequentarem menos baladas do que gerações anteriores, está a alta nos casos de assédio sexual na noite.

Nas ruas e nos bares, a gente só quer ser feliz. Rir alto, tomar umas geladas, deixar as crianças correrem à nossa volta, ir ao banheiro sem o risco de alguém nos chamar de vagabunda ou puxar nosso braço. Falando assim parece pouco, mas é raro. Tão raro quanto uma rua com nome de mulher. Cadê as Alziras, Emas, Robertas, Elzas nas placas? Você acha mesmo que nossas avós, bisavós e demais antepassadas ficavam só lavando a louça e por isso não mereceram tais homenagens?

Leia mais colunas da Ana:
:: Ana Cardoso: “Na internet, nem tudo é o que parece ser”
:: Ana Cardoso: “Se você sente que tem que ser linda e sarada, já não é mais livre”
:: Ana Cardoso: “A pergunta que devemos nos fazer”

O Ana Cardoso: #8220;Nas ruas e nos bares, a gente só quer ser feliz” em Donna.

Fonte: Donna

Sem Comentarios