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Empreendedorismo: dupla viaja o mundo em busca de histórias de mulheres que montaram seus próprios negócios

Por Rossana Silva, Especial

Antes de arrumar as malas rumo aos Estados Unidos, deixando para trás carreiras consolidadas no mercado corporativo, a advogada Fernanda Moura, 42 anos, e a administradora Taciana Mello, 47 anos, já tinham uma certeza. Não é só no Brasil que as mulheres enfrentam dificuldades para empreender. Mas, ainda assim, elas se surpreenderam ao chegar ao Vale do Silício, sede das startups mais bem-sucedidas do mundo, e ver a baixíssima presença feminina entre os fundadores das empresas.

– Morávamos muito perto do Vale, íamos a muitos eventos de empreendedorismo e startups, conhecíamos muitos empreendedores. E começamos a notar que quase não víamos mulheres. Nos causava estranheza estar no país mais empreendedor e na área mais empreendedora, referência mundial, e as mulheres estarem apenas em posições de suporte – conta Fernanda.

Foi quando decidiram descobrir, elas mesmas, quem são as empreendedoras mundo afora e o que, entre dificuldades e soluções, as aproximam.

Sob a alcunha The Girls the Road, criaram o projeto Founders – com o símbolo do gênero feminino substituindo a letra “o”. Desde julho de 2016, a dupla já percorreu 12 países, como EUA, México, Canadá e Japão para conhecer mulheres empreendedoras em diferentes áreas de atuação. E há ainda 13 países na lista de próximos destinos. As entrevistas com as personagens serão transformadas em um documentário no final da viagem.

– Os relatórios sobre empreendedorismo feminino apontam que causa um impacto negativo as mulheres não verem outras mulheres empreendendo. Há uma falta de modelos e de referências femininas. Essa é uma das razões de querermos fazer um documentário com histórias inspiradoras: mostrar que há muitas mulheres construindo negócios fantásticos em muitas partes do mundo – afirma a pernambucana Taciana desde Havana, de a dupla permaneceria até o dia 24.

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Desde áreas como cosmetologia e padarias artesanais até a tecnologia e a neurociência, o campo de atuação das entrevistadas é diverso. O único requisito é que tenham três anos de experiência no negócio. Apesar da diversidade de valores e culturas, a dupla já percebeu que os desafios são semelhantes independentemente do país.

– Todas elas falam do sexismo, do machismo e do quanto ainda têm de provar muito mais do que os pares masculinos. Além das dificuldades adicionais que a maternidade traz – afirma Taciana.

Entre as próprias mulheres há desafios a superar.

– Uma questão relevante é o que temos chamado de fogo amigo. São mulheres com uma ura muito crítica e machista em relação a outras mulheres. Na China, entrevistamos uma australiana que levou sua startup para lá. Quando estava trabalhando para levantar recursos, escutou de uma investidora que não financiava negócios de mulheres porque elas já têm o seu lugar em casa – exemplifica Taciana.

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Ao combinar visitas a países nos quais o empreendedorismo é baseado em diferentes fatores, como inovação ou necessidade, e com distintos estágios de igualdade de gênero, o projeto vai formar um mosaico sobre a situação do empreendedorismo feminino no mundo. Para além dos casos bem-sucedidos, entrevistas com organizações locais ajudam a contextualizar a realidade de cada país.

O documentário irá além das histórias inspiradoras, abordando lições, desafios e soluções relevantes para mulheres que estão montando o próprio negócio. Uma conclusão já desponta: as mulheres mundo afora não compartilham apenas os obstáculos, mas também as soluções.

– Em todos os países, encontramos redes de empreendedoras que se apoiam e até de investidoras que têm apostado em ideias vindas de outras mulheres. No Brasil, por exemplo, há a Rede Mulher Empreendedora, que tem crescido muito – conta Fernanda.

Ao iniciar o projeto, Fernanda e Taciana também vivenciaram um dos aspectos mais difíceis para as mulheres que querem montar um negócio próprio: conseguir o financiamento para tirar a ideia do papel. Elas arrecadaram US$ 3,5 mil por meio de um crowdfunding, mas a quantia não foi suficiente sequer para custear os equipamentos de gravação. Ainda assim, resolveram seguir em frente: calculam que 99% do investimento tem saído do próprio bolso, bancando deslocamentos e hospedagens em países dos cinco continentes. Mas a dupla ainda busca uma parceria para finalizar o documentário assim que acabarem a volta ao mundo.

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A percepção de Fernanda é que, como a maior parte dos investidores é masculina, eles se interessam mais pelos projetos relacionados a seu universo particular.

– Quando chega uma empreendedora com uma ideia ou um negócio que não seja considerado tipicamente masculino, ele vai ter dificuldade de querer comprar essa ideia e investir – afirma Fernanda.

Por enquanto, ainda há estrada pela frente. O próximo destino é a Alemanha, de de seguem o roteiro por Europa, Oriente Médio e África até o próximo ano. Em cada lugar, as esperam mulheres que estão derrubando estereótipos para construir negócios de sucesso.

 

Países já visitados

• Estados Unidos
• Canadá
• México
• Japão
• Coreia do Sul
• China
• Cingapura
• Malásia
• Austrália
• Brasil
• Chile
• Cuba

 

Próximos destinos

• Alemanha
• Islândia
• Noruega
• Rússia
• França
• Líbano
• Irã
• Israel
• Quênia
• Etiópia
• Tanzânia
• África do Sul
• Botsuana

 

Ideias inspiradoras

Confira três iniciativas que serão narradas no projeto Founders

SheEO  (Toronto, Canadá)
Empreendedora: Vicky Saunders
Uma plataforma de suporte a empreendedoras. Na prática, Vicky Saunders criou um grupo de cem investidoras, cada uma delas aportando US$ 1 mil. O valor total (US$ 100 mil) será investido em 10 empreendedoras escolhidas por um comitê de mulheres entre vários projetos ou empresas que já existem e precisam de investimento. As selecionadas participam de um programa de mentoria e, ao final, apresentam seu negócio e decidem quanto cada uma levará de investimento.

Unagi Travel (Tóquio, Japão)
Empreendedora: Sonoe Azuma
Formanda na área de finanças, Sonoe construiu uma carreira em grandes bancos, até que decidiu largar tudo e montar seu negócio. A ideia é um tanto inusitada: uma agência de turismo para bichos de pelúcia. Ela adorava levar sua enguia de pelúcia em suas viagens e, quando seus amigos saíam de férias, pedia para que eles a levassem e tirassem fotos. Até que montou um para publicar as imagens e decidiu transformar o hobby em negócio. Os clientes enviam seu bicho de pelúcia pelo correio, e Sonoe organiza o passeio com guias turísticos (outros bichinhos), tudo fotografado e publicado na internet para que o dono possa acompanhar. Ela já publicou um livro sobre as histórias por trás de alguns dos clientes, como crianças que estão doentes e não podem viajar, ou o governo da Coreia do Sul, que usa os serviços da agência para promover uma aproximação turística com o Japão.

Lab4u (Santiago, Chile)
Empreendedora: Komal Dadlani
Chilena de origem indiana, Komal é uma das fundadoras da Lab4U, uma plataforma de educação com experimentos nas áreas de física e química que podem ser realizados com um smartphone ou tablet. Ciente da dificuldade e do custo de ter um laboratório à disposição dos estudantes em cada escola, ela pensou em uma plataforma para colocar um laboratório virtual no bolso de cada estudante e tornar mais interessante o aprendizado em sala de aula. A Labs4U tem impactado mais de 10 mil alunos no Chile e vai entrar no mercado do México e da República Dominicana. Também já está em negociação para levar a plataforma a Dubai.

O Empreendedorismo: dupla viaja o mundo em busca de histórias de mulheres que montaram seus próprios negócios em Donna.

Fonte: Donna

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